quinta-feira, 28 de maio de 2009

Preta Gil uma aproveitadora ?


Pelo menos é o que acha a maioria (60%) dos leitores do blog. O resultado da enquete feita aqui sobre as reais intenções do convite da dublê de cantora e atriz à Stefhany para cantarem juntas em show no Canecão, Rio de Janeiro, apontou que Preta quer mesmo é lucrar com o sucesso da garota do Cross Fox na internet.

Será mesmo? Se pensarmos que a filha de Gilberto Gil tem uma carreira irregular – nem é cantora nem é atriz de verdade – e encontra na sua autenticidade seu maior talento, pode ser que se aliar à nossa “Susan Boyle do sertão” não seja má idéia.

Por outro lado, para Stefhany chegar a cantar no Canecão, palco histórico da MPB, sem uma ajudazinha ainda teria que comer muito arroz com feijão ou dirigir muitos Cross Fox pelas ruas de Inhuma. Gil e Stefhie já andam acertando os detalhes do show. Medo.

Na média, será bom para as duas... e para nós também: imagine Preta e Stefhany em um dueto algo Divas in Concert ?! Imperdível. Impossível. Impensável.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Rumos Itaú Cultural prorroga inscrições

O Itaú Cultural ampliou em uma semana a data limite para as inscrições de projetos nesta edição do programa Rumos – nos segmentos Cinema e Vídeo, Dança e Arte Cibernética – cujo edital foi lançado em março deste ano.

Os interessados em participar agora têm até o dia 5 de junho para enviar o seu projeto à instituição. A inscrição, gratuita, deve ser feita mediante preenchimento de ficha – no site do instituto (www.itaucultural.org.br/rumos).

A seleção dos projetos será feita por comissões autônomas formadas por especialistas nas áreas contempladas e um representante do Itaú Cultural. Os resultados serão divulgados no segundo semestre deste ano por meio da imprensa e do site, onde se encontram os editais.

sábado, 23 de maio de 2009

O despertar de um fauno


O modelo Igor Campos foi no mínimo corajoso ao escolher o texto de sua estréia no teatro. Ele está em cartaz até hoje,no Espaço Trilhos, com “O Sono do Fauno”, texto inspirado no poema de Mallarmé, escrito em 1865, e montado pela companhia "Os Shakespirados".

A montagem, dirigida por Arimatan Martins, utiliza-se das novas tecnologias para contar a pequena trajetória de um modelo brasileiro no exterior que empreende sua volta ao sertão brasileiro. Esperando o vôo, ele adormece e sonha ter-se transformado em um mitológico fauno – ser com torso de homem e patas de bode. Ao acordar percebe que o sonho era real.

Nesse ínterim, Mário F. (seria de Faustino?) contracena com dois outros personagens pelo Skype, dispositivo que reproduz imagens e voz pela internet.
Pela complexidade do enredo e ousadia da montagem dá para o leitor ter uma idéia do desafio que foi para Igor Campos entrar em cena interpretando um texto complexo e rebuscado, numa encenação cheia de nuances e modulações.

O que o jovem modelo (o intérprete, não o personagem) mostrou em palco que possui uma “vontade cênica”, isto é, é esforçado, buscou seu personagem seriamente e não como o fauno busca as ninfas por diversão.

Igor está bem ensaiado, presente de corpo e alma em cena. A inexperiência comum a todo estreante lhe faz parecer engessado em alguns momentos. Os altos e baixos são compreensíveis – o texto era bem maior que ele e a direção e preparação de corpo lhe exigiram muito. O intérprete, no entanto, não se amedrontou e partiu para cima do que lhe foi proposto. O que nos mostrou foi um bom e convincente exercício.

A montagem é primorosa e merece aplausos pelas ligações até então inimagináveis entre o fauno de Mallarmé e o bodes do sertão piauiense. A cena em que as uvas são pisadas por Mario F. já transformado lembrou os pisadores de cacau baianos. O cenário é uma obra prima de Fátima Campos.
Tudo em “O Sono do Fauno” concorre para que o fauno de Igor Campos desperte e desabroche o ator que virá com a experiência.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Tela de Lucílio está sendo recuperada


A denúncia do dano sobre a tela de Lucílio de Albuquerque feita por este blog causou grande repercussão. De Brasília, o senador Heráclito Fortes, colecionador de obras de arte, tendo inclusive em sua coleção criações do pintor barrense, segundo informações, afirmou que deseja apurar o que provocou o rasgo na tela “Vaso com Flores”, que estava em exposição no Museu do Piauí até o começo desta semana (leia o post logo abaixo). A denúncia foi repercutida também pelo portal Cidadeverde.com e pela coluna Porteira, de Francisco Magalhães, no mesmo site.

Entramos em contato com a Fundação Cultural do Piauí e ouvimos da presidente, Sônia Terra, que a perfuração pode ter sido causada por um acidente cujas origens são desconhecidas. O fato é que, para o bem do legado de Lucílio, a tela já encontra-se em análise para que seja feita a limpeza e um remendo provisório até que se proceda ao restauro definitivo.

Mais: Sônia Terra revelou que já existe uma verba de R$ 45 mil oriunda do Siec para modernizar a oficina de restauração do Museu do Piauí, o que garantirá o bom estado de obras não só do acervo do Casa de Odilon Nunes, mas de outros acervos da capital e do interior também.

“Temos uma dívida grande com relação às políticas públicas para os nossos museus”, disse Sônia Terra. “Há tempos a cidade espera por isso”. A presidente da Fundac afirmou que “vai agir com total responsabilidade e competência” sobre o dano à obra de Lucílio.

“Vaso com Flores” faz parte de um conjunto de sete obras pertencentes ao Museu do Piauí. Bom saber que, nesse caso, a polêmica esteja servindo para a salvaguarda das esculturas e telas da Casa de Odilon Nunes, o que é realmente o importante.

Potter entra em campo novamente


O próximo filme de Harry Potter estréia em julho, mas a Warner já põe o time em campo: a produtora relança os DVDs do bruxinho em edição de luxo ao preço de R$ 19,90cada.

Até aí tudo bem não fosse o fato de oferecer seis minutos inéditos de “O Enigma do Príncipe” em um disco adicional no formato box com todos os seis DVDs por RS 79,90.
Não bastasse isso, a caixa ainda trás um documentário de 40 minutos sobre “O Cálice de Fogo”. É pra pirar a cabeça de qualquer pottermaníaco.

No novo filme, Potter se vê às voltas com um misterioso livro de poções, descobre as origens de Voldemort e precisa se fortalecer para enfrentar seu arquiinimigo mais uma vez.

O lançamento faz parte da estratégia de divulgação do novo filme do personagem de J. K. Rowlling. “O Enigma do Príncipe” chega aos cinemas um ano depois do planejado, evitando choques com produções de fantasia que pipocaram na telona em 2008. É claro que elas não tiveram o mesmo sucesso – parece que só Harry sabe o segredo do encanto !!!
Os DVDs estão à venda na Americanas, Saraiva e Submarino.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Obra danificada no Museu do Piauí


Uma tela de Lucílio de Albuquerque, um dos maiores pintores piauienses do final do século XIX e começo do XX, está danificada. Exposta no Museu do Piauí, “Vaso com Rosas” possui um rasgo provavelmente feito por um objeto pontiagudo e cortante (foto).

O dano à obra de arte, que pertence ao acervo da Casa de Odilon Nunes, só reforça a situação precária de armazenamento e exposição das peças no local. O fato triste acontece justamente na Semana dos Museus, quando o espaço exibe criações de artistas plásticos piauienses a partir dos anos 1960.

Não é de hoje que o Museu do Piauí necessita de adequação para resguardar e exibir seu acervo. Funcionando em um prédio histórico porém centenário, a casa não dispõe de climatização necessária para preservar as peças da ação do calor e da luz. Pior: o impacto, a longo prazo, dos ônibus coletivos que passam exatamente na porta do museu é incalculável.

A visitação à exposição comemorativa à Semana dos Museus é outro motivo de preocupação: em três dias de evento apenas 123 pessoas conferiram as obras de Nonato Oliveira, Píndaro Castelo Branco, Josafá e de outros nomes que fazem parte da mostra. Na terça-feira, 19, apenas duas pessoas assinaram o livro de visitas.

Curiosamente o tema da Semana dos Museus esse ano é “Museu e Turismo”. Se o intuito é incentivar a visitação aos acervos históricos e artísticos das cidades, estamos bem mal por aqui. Para quem interessar possa, a exposição com artistas piauienses contemporâneos fica em cartaz até à sexta-feira, 22. A entrada é grátis e o programa é maravilhoso

terça-feira, 19 de maio de 2009

Cinema com grife


Na França também tem o “jeitinho brasileiro”. Quer um exemplo? A atriz Audrey Tautou só conseguiu o papel de mocinha em “O Código Da Vinci” graças a uma mãozinha do presidente Jacques Chirac. Ele teria barganhado a permissão das filmagens no Louvre –onde é estritamente proibido filmar ou fotografar – pela cessão do personagem Sophie Neveau à uma amiga de sua filha - que por acaso era ninguém menos que... Audrey Tautou!

Tudo bem que Audrey já havia arrebentado em “O Fabuloso Destino de Amelie Poulin”, mas uma ajudazinha, ainda mais de Chirac, foi super-bem vinda. Ou não?!

Tautou volta aos cinemas em outubro (estréia no Brasil dia 30) com a cinebiografia de Coco Chanel (foto). Segue os mesmos passos da conterrânea Marion Cotillard que ganhou um Oscar por incorporar Piaf. Será que Audrey levará a estatueta ano que vem? A menina tem senso de oportunidade...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A pequena notável


Samanta Schmütz é pequena para o Zorra Total. O humorístico das noites de sábado da TV Globo não comporta todos os bons personagens que a atriz inventou. Tanto é que precisou de um palco só para si por onde possam passar seus tipos impagáveis.
Graças à TV nós já conhecemos a “matusalênica” Leonina Borges e o pitboy pegador Juninho Play, mas eles não são um décimo do que Samantha é capaz de fazer no espetáculo “Curtas”, que passou por Teresina neste fim de semana.

Em uma hora de peça, a atriz – pequena apenas em estatura – se agiganta ao interpretar a histriônica sexóloga latina Conchita Serena. Fazendo consultas em pleno palco, ela simula responder perguntas da platéia. Dois momentos: o exercício de masturbação feminina que ensina é algo de extraordinário; e o que a sexóloga fugindo da imigração trocando tiros com um helicóptero fictício empunhando um pênis flácido de látex? Impensável. Aliás, impossível !!

Não bastasse isso, Schmütz ainda nos oferece a “mina” Vãnessa (assim mesmo, com til) que se candidata a cover de Britney Spears... Mas o melhor do espetáculo a atriz guarda para o final – Fátima, uma cantora lésbica, estrela de um restaurante pulguento que mescla seu repertório de “embromation” com o cardápio do dia. Samantha deita e rola com o tipo e mostra que além de excelente atriz é uma ótima cantora também. Sua imitação de Maria Rita põe no chinelo qualquer Tom Cavalcante da vida. “Curtas”, sem trocadilhos, é tão bom que devia ser um pouco mais longo...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A Verdade não está lá fora


Não tive uma formação cristã muito sólida, apesar de ter morado ao lado de uma igreja até meus quatorze anos. Sempre fui uma criança muito curiosa e talvez por causa disso era visto com desconfiança por minhas professoras de catecismo e depois por carolas e mais tarde padres.

Fui batizado só aos nove anos sob protesto do pároco da minha cidadezinha. Li “O Exorcista” pouco tempo depois; o filme me assombrava desde criança e só consegui assisti-lo já adulto, mas mesmo assim ainda apavorado com a história de Reagan – dizem que baseada em fatos reais.

No curso técnico – que antes equivalia ao ensino médio – conheci uma evangélica batista na minha sala que colava como a gente e acompanhava a turma em qualquer bagunça. Numa discussão me mandou praquele lugar sem nenhuma cerimônia. Descobri que ela tinha a boca suja de um caminhoneiro, mas ia à sua igreja e orava normalmente a Deus sem nem mesmo escovar os dentes.

Foi nessa época que me tornei espírita, mas sempre questionando os dogmas da Doutrina. Sempre vi todas as religiões como algo a ser dissecado, observado, inquirido até que não reste dúvida alguma ou quase nenhuma.

O meu Deus nunca foi esse velho de barba branca com cara fechada e um cinto na mão pronto para nos dar uma boa lambada no primeiro escorregão. Sempre o vi e ainda o vejo com o pai bacana, que trabalha o dia inteiro para que sua família não se perca e esteja sempre aconchegada junto a ele. Um pai que põe o braço em volta do ombro do filho com problemas e diz: vamos resolver tudo juntos, eu e você.

Não consigo entender o alvoroço da igreja católica com os livros e filmes de Dan Brown. Li “O Código Da Vinci”. Vi o filme. Muito bons. Envolventes. Mas não mudaram minha visão de Deus, muito menos do catolicismo. Ainda não vi “Anjos e Demônios”, mas o novo alvoroço em torno da nova adaptação do escritor “pesadelo do Vaticano” me fez acionar minhas convicções novamente.

Não acredito nem por um segundo que um livro possa influenciar alguém a mudar suas crenças, principalmente as religiosas. Se fosse assim, teria pirado depois que li em “O Exorcista” que o diabo está em todos os lugares. Imediatamente me veio à cabeça que todos esses lugares por onde ele possa balançar seu rabinho foram criados por Deus.

Sim. Acredito em Deus. Profundamente. Nunca li a Bíblia além de algumas páginas, mas li todo o livro de Dan Brown. Cheguei à conclusão que a fé no meu Deus não é ditada por nenhum escritor, seja ele inglês ou que tenha sido contemporâneo de homens tido como santos – por mais bem escrito ou convincente que o enredo que ele haja escrito seja. A propósito: “Anjos e Demônios” já está em cartaz nos cinemas de Teresina.

domingo, 10 de maio de 2009

O riso é a lei




Como atriz, Madonna é uma cantora extraordinária. A artista é vítima de uma qualidade sua que se torna um problema: sua imagem icônica se sobressai aos personagens que interpreta, impedindo que vejamos seus contornos. Até mesmo quando “esteve em casa” interpretando o papel-título do musical “Evita”, vimos mais a Material Girl do que propriamente Eva Perón.

O mesmo acontece com a comediante Heloísa Périssé quando interpreta a advogada corrupta Yasmin Robalo na hilariante “A Advocacia Segundo os Irmãos Marx”, que esteve de passagem por Teresina nos dias 07 e 08 de maio.

Por ter uma presença forte, Périssé diminui um pouco a sua personagem e a comediante aflora dona da situação, sem grandes prejuízos para o texto hilário e rápido da peça. Bom para a platéia que vai abaixo a cada três falas. A montagem se baseia em textos dos Irmãos Marx, datados dos anos 1930.

Como há uma regra no teatro de que atrás de uma grande artista deve existir um elenco forte, “A Advocacia” encontra em cinco fabulosos atores seu ponto de equilíbrio. Na montagem que veio à capital, o elenco com Wilson Santos, Robson Nunes, Alex Moreno, Flavio Baiocchi e Alexandre Pinheiro se divide em interpretar os assistentes punguistas da não menos trapaceira doutora Yasmim, e os demais tipos que procuram os serviços da advogada.

Dividida em cinco pequenos episódios, “A Advocacia Segundo os Irmãos Marx” acompanha o dia a dia nada modorrento do escritório da advogada. Ela é uma exacerbação da figura do advogado mau caráter, mais preocupado em dinheiro do que com ética ou com o reais problemas de seus clientes.

Apesar de comédia, a peça faz uma crítica oportuna no momento em que tantos homens do Direito entram e saem da mídia nacional como coadjuvantes em processos escandalosos de corrupção, tráfico de influência, assassinatos pavorosos e desvio de dinheiro público.

Um dos destaques na comédia é o ator Wilson Santos, o Jojô de “Duas Caras”, heterossexual disfarçado de gay dono de uma uisqueria. Tarimbado nos palcos de comédia, Wilson apresenta um trabalho especial e refinado. Ele faz a mais interessante das secretárias da advogada que se revezam na montagem, um malandro debochado a serviço da advogada e uma diva portuguesa do teatro – a caracterização e o tom do personagem são primorosos.

Bem assessorada, diferentemente dos clientes da advogada que interpreta, Heloísa Perissé é a estrela dos créditos da comédia, mas encontra solo fértil para plantar suas piadas no elenco maravilhoso que a acompanha. O resultado não poderia ser diferente: o riso é a lei em “A Advocacia Segundo os Irmãos Marx”.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

De bicho feroz a cão de companhia



Quem conhece a mitologia do mutante Wolverine sabe que sua vida anterior ao X – Men é nebulosa. O fã dos quadrinhos conhece pouco mais do que insights da experiência que o tornou indestrutível e sua fuga do laboratório. É no mínimo curioso assistir ao filme que se dedica a contar sua cronologia e ver que nada acontece a Logan.
A crítica não tem sido nada amigável à produção que abre o leque para contar a gênese de todos – ou pelo menos os mais importantes – os mutantes comandados por Charles Xavier.

“X – Men Origens: Wolverine” é um filme divertido e pronto. Não foi feito só para os fãs do super-herói sanguinário e sedento de vingança. Tem pancadaria (muita !), efeitos especiais aos montes e uma direção vigorosa, mais interessada em manter o espectador de boca aberta do que lembrar da infidelidade do roteirista.

Sobre esse detalhe vale lembrar que entre a obra literária – e os quadrinhos o são – e sua versão no cinema existe sempre a mão do diretor e muito das duas mãos do roteirista, o homem que a adaptou para o audiovisual. O diretor é Gavin Hood, que ganhou um Oscar por "Tsotsie", de 2005.

“Origens” nos apresenta o menino James Logan que escapa de casa após uma tragédia provocada por ele próprio. Ele e um meio-irmão (que mais tarde será o Dentes de Sabre) lutam em guerras históricas e desembocam no tempo atual em uma equipe secreta do exército. Mais tarde Logan vai proteger mutantes do ataque enlouquecido de um humano que deseja exterminar a raça.

Sem grandes revelações ou cenas memoráveis, o filme diverte se você não for um daqueles fãs puristas irredutíveis. Se não, evite. Não vai fazer a menor diferença assisti-lo ou não. Espere o DVD. Os extras podem ser bem mais interessantes. O carcaju feroz no filme virou apenas um bom cão de companhia.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Alegoria sobre a ignorância humana


Há alguns anos quem passava pela avenida Maranhão, no trecho em frente ao cais do Troca Troca, apreciava um mural maravilhoso de Nonato Oliveira, o artista cujos personagens são sempre sertanejos de olhos profundamente azuis e piedosos. A obra de arte teve que dar espaço à outra obra, de construção, vultosa, necessária ao crescimento da cidade.

É quase certo que os operários incumbidos de destruir o muro que abrigava a criação de Nonato nem soubessem de fato o que representavam aquelas figuras. Para eles era apenas um muro a ser derrubado. Cumpriram ordens. Cegamente ou por desconhecimento de certos valores tidos como fúteis ou supérfluos.

Os operários, nesse caso, se assemelham ao pequeno exército nazista feminino que escolta um grupo de prisioneiras judias pelo interior da Alemanha em um trecho do livro “O Leitor”, de Bernhard Schlink.

Tendo que pernoitar em uma pequena vila numa noite muito fria de inverno, as oficiais e suas cativas, sob o comando de Hanna Schmitz, abrigam as judias em uma igreja próxima. A vila é bombardeada por aviões inimigos a igreja é incendiada. Trancafiadas por segurança, as mulheres morrem queimadas.

Anos depois encontramos Hanna vivendo tranquilamente em uma cidade alemã como se nada tivesse acontecido. A bela mulher balzaquiana envolve-se, então, com um jovem de 15 anos, com quem vive uma paixão tórrida, arrebatadora e cheia de rituais. É sob a ótica do então adolescente Peter que acontece a narrativa de “O Leitor”.

O excelente romance de Schlink inspirou o filme de mesmo nome que deu o Oscar de melhor atriz à Kate Winslet, que viveu a oficial Schmitz. Emocionada ao receber a estatueta, a atriz inglesa disse que sonhava com o prêmio desde criança; esqueceu de agradecer ao escritor alemão que criou um personagem misterioso, enigmático e por vezes cruel, mas que revela-se tão frágil ao longo do livro que nos leva a inocentá-la de todo e qualquer ato que tenha cometido em seu passado.

Bernhard Schlink não poupa o leitor. Usa uma linguagem direta e seca que “aprisiona” a cada página. Os capítulos são mínimos e o livro está dividido em três partes. Como usa o tempo psicológico para narrar os fatos desde a adolescência até á maturidade de Peter, abre mão das firulas e conta os acontecimentos sem subterfúgios nem rodeios. Cada revelação é um tapa na cara do leitor.

O texto do alemão, que em nada lembra a escrita detalhista e impressionista do conterrâneo Patrick Süskind, de “O Perfume”, deixa os fantasmas apenas para a consciência de Hanna, essa sim o único juiz aceito pela personagem.

Pelos crimes que cometeu, a oficial vai a julgamento, mas não reconhece nos acusadores nenhuma autoridade que possa definir seu castigo. Michael, agora um estudante de Direito, acompanha todo o processo até o seu desfecho. Nesse ínterim o leitor descobre que Hanna é analfabeta, desconhecia a máquina do Nazismo, apenas cumpria ordens, dadas à ela oralmente; talvez por isso não tenha entendido a carta enviada por seus superiores que ordenava a libertação do grupo de judias prisioneiras e o bombardeio que culminou com a morte de todas elas, com exceção de uma mãe e sua filha.

Custa-se a descobrir qual o tema de “O Leitor”: uma paixão entre um adolescente e uma mulher mais velha? A crueldade nazista? Um julgamento polêmico? Analfabetismo? No final surpreendente e emocionante descobre-se que Bernhard Schlink criou uma alegoria sobre a ignorância humana, dos “crimes” que falta de acesso ao conhecimento pode provocar. "O Leitor" aborda o assunto como uma lente de aumento.

Como Hanna Schmitz, os operários que colocaram abaixo o mural de Nonato Oliveira sem questionar. Não conheciam o artista. Pior: não conheciam o valor da Arte. Talvez um ou outro tenha admirado a pintura por alguns minutos antes do primeiro golpe, mas não a ponto de salvá-la. Estética não fazia parte de seu mundo e repertório. É compreensível: num país em que ensino ainda é um luxo para milhares de pessoas, assassina-se todo dia a possibilidade de evolução do ser humano como as judias queimadas pela ignorância de sua carcereira.