terça-feira, 28 de julho de 2009

A bola, o campo, o palco e a mesa


"A Mesa", espetáculo de estreia dos alunos do curso de teatro de Moisés Chaves. Foto: Xico Piauí

Assim como o futebol, o teatro não é brincadeira. Embora pareça em muitos casos. Quem se arrisca a dar a cara à tapa e ao aplauso está disposta a tudo. Tudo mesmo.

Foi com essa coragem e desapego que sete alunos do curso de interpretação ministrado pelo ator e diretor Moisés Chaves estrearam recentemente a montagem “A Mesa”, inspirada no clássico “O Banquete”, de Platão.

Para quem não lembra, é aquele texto que discute a origem do amor, da busca pela cara metade e coloca na mesma estante – como os gregos e outros antigos faziam – a heterossexualidade e a homossexualidade, sem conflitos.

Foi uma estreia para os amigos e familiares após quatro meses de aulas, estudos e ensaios. Quem conhece o diretor Moisés Chaves sabe que ele é rigoroso e visionário na escolha da prova de final dos seus alunos: já montou, entre tantos, os surreais textos de Arrabal, Sófocles e coisas mais simples mas não menos singelas como Ziraldo.
Iniciar-se no Teatro encarando monstros como esses não é nada fácil. Que o digam os alunos de Mocha. É preciso coragem, irmãos. E ela não faltou a nenhum deles.

OK. São iniciantes, não esqueçamos. Não espere grandes atuações, falas impecáveis, segurança em cena, nuances de personagens bem marcadas... Mas estar na arena pronto para ser destroçado pela ansiedade e descrença da platéia não é brincadeira – ainda mais interpretando Platão !!! - assim como não o é o futebol e o teatro como dissemos antes...

São duas artes, cada qual tem seu campo, mas depreendem se não talento, pelo menos o empenho. Muito empenho. No final do jogo, os deuses da bola e do palco acabam por escolher seus eleitos sem a nossa anuência.

Os novos comensais que se sentaram à “Mesa” para a sua estreia conheciam o jogo, a estratégia e como jogar para a platéia: a eles coube entrar em palco (ou em campo?) e mostrar o que sabem fazer. A nós coube a primeira crítica, o aplauso ou o desdém. Assim como muitos não nasceram para a bola, outros tantos não o fizeram para o teatro. Existe um abismo entre talento e esforço. A diferença é quem consegue atravessá-lo e de que forma. Em “A Mesa” alguns saltaram como ginastas para o outro lado, outros se atiraram ao fundo como pedras. Com esforço podem construir uma escada até o palco.

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