sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um homem frágil que virou mito


Agradeço a Michael Jackson meu medo infantil de lobisomens. As imagens do clipe “Thriller” invadiram minha cabeça em 1983, num especial do Fantástico, na TV Globo. Eu, então um garoto de 8 anos, fiquei apavorado e ao mesmo extasiado com aquele rapaz negro, franzino e frágil mas que se transformava em uma besta desumana e dançava com mortos vivos. Que incrível !!!

Depois que o clipe acabou fiquei a me perguntar quem era aquele homem capaz de tantas maravilhas;nos cadernos de confidências de amigos da escola respondia que era fã dos “dançarinos” Michael Jackson e Madonna, a rainha do pop. Era uma criança e não tinha a dimensão da importância daquele rapaz mutante.

Na minha casa havia o LP “Thriller”, já muito ralado após tantas execuções. Em 1987, chegou à nossa radiola o novo sucesso “Bad”. Os discos de Michael dividiam a turma entre quem os tinha ou não. Naquele ano, já um pouco mais velho, finalmente tomei consciência da importância do artista para a música mundial.

Passei a acompanhar sua trajetória de longe porque, na verdade, nunca fui um grande fã. Já morando na capital, conheci admiradores ardorosos que chegavam até a imitá-lo. Passei a desconfiar daquele homem que virava lobisomem e foi aí que suas esquisitices e extravagâncias começaram a se tornar mais famosas do que ele próprio.

Li muita coisa a respeito e uma delas dizia que Michael mantinha uma paixão platônica por sua madrinha, a cantora Diana Ross. A adoração era tanta, diziam, que ele estava tentando se transformar fisicamente na ex-Supreme através de plásticas agressivas e continuas.

A mim também chamava atenção o fato do rancho do cantor se chamar de “Neverland” e,enquanto todos diziam que ele estava cada vez mais branco, eu defendia que estava cada vez mais parecido com Peter Pan, tanto fisicamente como nas ações: vivia rodeado de crianças, dificilmente aparecia no “mundo dos adultos ” e se recusava a deixar o passado para trás e encarar o que estava por vir.

De rei do pop Michael Jackson tornou-se gradativamente uma triste figura, um boneco cenográfico mágico que parecia vindo de seus próprios clips fantásticos. Refém de sua própria fama, mesmo decadente continuava a viver em um lugar que só existia em sua cabeça, um lugar onde tudo era perfeito e estava ao alcance de sua mão, as pessoas não tinham maldade e ele continuava soberano absoluto.

Encastelou-se dentro de si, tomando remédios que pudessem evitar qualquer contato com o mundo real; tinha pânico de se contaminar respirando o ar comum ou tocando nas pessoas. Já não conseguia distinguir realidade de fantasia. Certa vez disse que o momento perfeito era quando pulava no palco e ouvia os urros de milhares de pessoas gritando seu nome. Não sabia mais viver sem isso, mas também não sabia mais como conseguir a fama de volta.

Os monstros nos quais Michael se transformou na carreira agora assombravam sua mente. Tentou voltar à realidade mais foi traído pelo próprio coração, que como sua alma preferia ficar no mundo da fantasia. Michael Jackson não morreu, creiam, ele agora partiu de fato para a sua Terra do Nunca.

3 comentários:

Rosa Magalhães disse...

Sinceramente, desejo que a imprensa o deixe descansar, não o transformando num daqueles zumbis de Thriller. Que o deixem voltar para sua Neverland, finalmente em paz...

E eu ainda nem consigo acreditar direito.

Mara disse...

Acho que o grande problema da indústria midiática e, como não poderia deixar de ser, da humanidade em geral, é se ater aos pequenos detalhes irrelevantes, as fofocaiadas de todo dia e ao rastro alheio.

Hoje, um dia após a morte do cara que marcou a indústria musical e aderentes, o que mais vi foram dissecações de sua vida pessoal, no lugar de uma abordagem da sua importância como músico, como artista, como modificador de um status quo.

Como disse um amigo, nós preferimos ficar observando pelo buraco da fechadura.

Nane disse...

O que me fez triste ao saber do falecimento, foi o fato dele não ter conseguido ser uma pessoa feliz.Não ter dado tempo, embora tenha vivido 50 anos...

=/


beijooooos, GG!